segunda-feira, 20 de abril de 2009

Crítica - Eden Lake (2008)

Realizado por James Watkins
Com Kelly Reilly, Michael Fassbender e Jack O’Connell

Não será completamente descabido da minha parte admitir que muitos dos jovens da nova geração são cada vez mais atraídos pelas malhas do vandalismo e da rebeldia delinquente. Os role-models destes jovens são muitas vezes indivíduos que se recusam a cumprir as regras de um estabelecimento ou sociedade. Podemos partir do exemplo mais óbvio para comprovar esta realidade: a escola. Nas escolas existe uma espécie de pressão sobre os jovens no sentido de se integrarem o mais rápido possível no grupo dos “famosos”, “populares” ou “fixes”, grupo este normalmente constituído pelos desobedientes e desordeiros. Os jovens que não optarem por seguir esse grupo e decidirem dedicar-se aos estudos são designados de “marrões”, “betinhos” ou “meninos da mamã”. Este fenómeno é bem real e constatável em séries como os “Morangos com Açúcar” ou a “Rebelde Way”, séries de culto para a maioria dos jovens da sociedade actual.
Ora juntando este fenómeno com a cada vez mais irresponsável e ineficaz educação dada pelos pais, vemo-nos perante o nascimento de uma bomba perigosa que já explode em muitas escolas e estabelecimentos de educação. Já manifestei aqui a minha preocupação pelo rumo que a sociedade está a tomar. Os pais dão cada vez mais liberdade aos seus filhos, não sendo capazes de os controlar, e estes optam cada vez mais por uma via de desrespeito e ignorância onde pensam que podem fazer tudo o que lhes apetece sem qualquer consequência ou responsabilidade.
“Eden Lake” é um filme saído da mente de James Watkins que reflecte precisamente sobre estas questões. A forma como os adolescentes se estão a tornar cada vez mais irascíveis, incontroláveis e simplesmente perigosos, de uma maneira que até os adultos começam a ter medo deles. Foi este novo receio manifestado pela sociedade que levou Watkins a contar esta brutal e aparentemente inacreditável história, mas que infelizmente é muito pertinente e pode ser bem real.


“Eden Lake” conta-nos a história de um casal de namorados – Jenny (Reilly) e Steve (Fassbender) – que decide ir passar um fim-de-semana pacato a uma região remota do Reino Unido onde se encontra uma grande e bela lagoa. De início tudo parece apontar para um fim-de-semana tranquilo e comum. Mas essa realidade altera-se drasticamente quando o casal dá de caras com um grupo de adolescentes que não conhece nada senão o desrespeito, e rapidamente o fim-de-semana transforma-se numa corrida infernal pela sobrevivência.
“Eden Lake” é um filme extremamente realista, muito bem escrito e realizado por Watkins (um nome a memorizar para o futuro). As interpretações dos actores (mesmo dos jovens) são bastante credíveis e a forma brutal e incansável como a câmara capta tudo aquilo que deve captar – desde o desabrochar da maldade e da consciência nos jovens até à modificação profunda dos sentimentos de Jenny em relação às crianças – é simplesmente brilhante. Acima de tudo “Eden Lake” é um thriller psicológico bastante intenso e provocatório; Watkins apresenta-nos um filme que não se esconde da polémica e tenta sempre provocar um debate e iluminar a mente dos espectadores no sentido de uma reflexão severa.
Esta obra leva-nos aos pontos fracos e mais negros da nossa sociedade, chamando a nossa atenção para os perigos de uma educação descuidada e incompetente de pais ignorantes e que simplesmente nunca deveriam ter sido pais na vida (pois através da sua incompetência acabam por dar nascimento a autênticos monstros que ameaçam o funcionamento da sociedade). Para além disso, “Eden Lake” é um testamento aos perigos da liberdade sem limites e do proteccionismo exagerado manifestado pelos adultos em relação aos jovens, que acham que a culpa nunca é das “criancinhas inocentes” e assim sendo, nunca se pode tocar nos meninos dando-lhes ainda mais liberdade para fazer asneiras.
Hoje em dia, notícias de jovens (e pais) que atacam as professoras nas salas de aula e que manifestam atitudes e comportamentos cada vez mais agressivos e desajustados invadem as televisões de uma forma constante. Será coincidência? Não me parece, e é bom ver que existem pessoas que pensam como eu e são capazes de fazer filmes provocadores que nos chamam a atenção para estes fenómenos. “Eden Lake” é então um belo filme de terror intenso e mordaz. Um filme para reflectir. Reflectir seriamente.

Classificação - 4,5 Estrelas Em 5

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