sábado, 7 de março de 2009

Crítica - Watchmen (2009)

A missão deles é vigiar a humanidade, mas quem vigia os super-heróis?
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Realizado por Zack Snyder
Com Malin Akerman, Billy Crudup, Matthew Goode, Jackie Earle Haley

A par da poderosa Marvel Comics, a DC Comics é uma das editoras de Banda-Desenhada mais famosas do mundo. Esta empresa é responsável pela criação e desenvolvimento de diversos super-heróis como Super-Homem, Batman, Mulher Maravilha e Aquaman. Em 1986, a DC Comics lançou no mercado mais uma história de Banda-Desenhada intitulada “Watchmen”, originalmente criada por Alan Moore e Dave Gibbons. A história de “Watchmen” foi dividida em 12 capítulos que rapidamente conquistaram o público norte-americano com o seu enredo profundo e bastante original. O seu imediato sucesso comercial originou vários projectos que pretendiam transportar esta obra para o grande ecrã. A 20th Century Fox adquiriu os direitos de adaptação cinematográfica mas, entre avanços e recuos, o projecto acabou por ser arquivado. Após ter passado sem sucesso pelas mãos da Paramount e da Universal, o projecto cinematográfico de “Watchmen” chegou finalmente aos estúdios Warner Bros. que em 2006 (20 anos depois do lançamento do primeiro livro de Banda-Desenhada da série) anunciou que o filme iria finalmente avançar. Três anos depois do inicio da sua produção, “Watchmen” chega finalmente às salas de cinemas mundiais envolto num clima de ansiedade e polémica porque um processo judicial entre a 20th Century Fox e Warner Bros poderia ter ditado o adiamento ou o final do projectou mas felizmente tudo acabou por se resolver e Zack Snyder, o visionário realizador de “300”, tem finalmente a oportunidade de exibir o seu trabalho final que nos últimos meses foi constantemente editado e cortado para satisfazer as necessidades comerciais da Warner.

A história de “Watchmen” é ambientada num Planeta Terra alternativo onde o aparecimento de super-heróis mudou radicalmente a História e a Humanidade. Temporalmente, a história situa-se em 1985, um tempo de grande tensão entre os EUA e a URSS que ainda continuam em Guerra Fria, no entanto, os acontecimentos passados alteraram um pouco a realidade política deste universo porque graças aos esforços do Dr.Manhattan, um super-herói com poderes sobrenaturais, a América venceu a Guerra do Vietname o que desequilibrou ainda mais a frágil balança do poder e segurança mundial. A sociedade Norte-Americana, liderada pelo Presidente Nixon, era protegida e vigiada por vários super-heróis mas em 1977 a sua popularidade desceu e a sua existência foi ilegalizada pelo Keene Act que forçou o desaparecimento e reforma de vários ícones da época, no entanto, alguns heróis mantiveram ilegalmente as suas actividades como vigilantes. Em 1985, Edward Blake (The Comedian) é assassinado e a sua identidade secreta é revelada. O seu antigo colega e vigilante mascarado, Rorschach, decide investigar a sua morte e parte em busca do culpado e de respostas concretas. Durante a investigação descobre uma conspiração que visa assassinar e desacreditar todos os super-heróis. À medida que recupera os contactos com a sua antiga legião de justiceiros, um grupo heteróclito de super-heróis reformados, Rorschach descobre uma conspiração mais vasta que está ligada ao seu passado e que pode ter consequências catastróficas para o futuro.

A adaptação desta série de Banda-Desenhada ao cinema nunca seria fácil devido à sua enorme complexidade mas o realizador Zack Snyder e os guionistas Alex Tse e David Hayter até fizeram um bom trabalho. Em termos gerais, o argumento do filme mostra-se fiel à história original mas é claro que nos apresenta uma versão mais compacta da Banda-Desenhada. Os cortes e edições eram inevitáveis porque é impossível contar a versão completa de “Watchmen” em três horas. Na minha opinião, a tríade criativa do filme (Zack Snyder, Alex Tse e David Hayter) resumiu muito bem a história original e conferiu-lhe um final diferente mas simbolicamente semelhante. Os fãs da Banda-Desenhada irão certamente compreender na perfeição o filme porque têm um conhecimento mais aprofundado das personagens e suas histórias, no entanto, o público que até agora esteve alheio a este fenómeno poderá sentir-se um pouco perdido neste Universo. A construção das personagens foi claramente a área narrativa mais afectada pela falta de tempo. Dr.Manhattan e Rorschach até têm um bom desenvolvimento que explicita razoavelmente as suas origens e as suas personalidades mas personagens igualmente importantes como Nite Owl e Silk Specter não tiveram direito ao mesmo tratamento. Outro problema do argumento diz precisamente respeito à relação amorosa entre estas duas personagens porque tal relação, nunca é concretamente justificada e abordada pela história que preferiu centrar toda a sua atenção e tempo na trama principal, uma decisão sensata mas que corta um segmento narrativo diferente e potencialmente interessante para o público geral. Ainda dentro das personagens penso que a Silk Specter original poderia ter sido alvo duma maior atenção, nomeadamente a sua relação amorosa com The Comedian.

A história propriamente dita divide-se essencialmente em dois blocos. Na primeira hora do filme acompanhamos Rorschach e a sua demanda pessoal para descobrir o assassino do seu colega de profissão. Este primeiro bloco é claramente a parte mais lenta e profunda do enredo porque começa a criar e desenvolver as bases da história, introduzindo as várias personagens e adensando a trama de conspiração que entretanto é revelada. Esta primeira parte também se torna muito importante para os espectadores que desconheciam o universo “Watchmen” porque explicita as origens dos super-heróis e as diferenças históricas deste mundo fictício. O segundo bloco do filme traz-nos as surpreendentes revelações da trama e as cenas mais pródigas em violência e espectáculo visual. A história tem um final algo atípico mas deliciosamente interessante que revela a verdadeira natureza de algumas personagens supostamente heróicas. Em suma, a história é contada de uma forma coerente e minimamente perceptível através de diálogos maioritariamente simples e compreensíveis que iluminam os traços gerais da trama. Os acontecimentos anteriores à história actual são relatados através de flashbacks que poderiam ser mais completos mas que cumprem a função mínima de contextualizar certos eventos e personagens. É claro que alguns pormenores da Banda-Desenhada foram ignorados mas o essencial está presente e mostra-se capaz de agradar a uma grande maioria do público.

Um dos pontos mais interessantes de “Watchmen” é o seu visual. Após ter surpreendido o mundo com “300”, Zack Snyder volta a dar mostras da sua criatividade e genialidade futurista no campo da captação e tratamento da imagem. Os magníficos efeitos especiais misturam-se na perfeição com o ambiente do filme e ganham um maior relevo nas cenas de acção. Estas foram brilhantemente coreografadas e apresentam uma constante mudança de ritmo que lhes confere uma maior espectacularidade. Às diversas cenas de elevada qualidade temos que juntar uma competente fotografia que capta na perfeição a mistura entre o ambiente dos anos 80 e o inerente futurismo das personagens. Na vertente técnica também tenho que destacar a magnifica banda sonora que mistura vários sons de diversos géneros. Algumas cenas dão-se ao luxo de ter como pano de fundo musical, canções de artistas icónicos como Bob Dylan, Janes Joplin, Jimi Hendrix e Simon and Garfunkel.

O elenco não nos apresenta nenhum grande nome de Hollywood mas isso não implica a inexistência de qualidade. Existem algumas performances razoáveis mas também existem algumas performances de grande nível. Dentro da excelência encontramos Jeffrey Dean Morgan e Jackie Earle Hailey que deram respectivamente vida a The Comedian e Roscharch. Ambos atribuíram um forte carácter às suas personagens e merecem todos os créditos pela força das suas personagens no grande ecrã. Patrick Wilson (Nite Owl II) e Carla Gugino (Silk Spectre I) desiludem um bocado mas a pobre construção das suas personagens impediu de certa forma uma melhor prestação. Malin Akerman (Silk Spectre II), Billy Crudup (Dr.Manhattan) e Matthew Goode (Ozymandias) apresentam uma performance razoável e dentro do esperado.

Em última análise, “Watchmen” não desilude porque tendo em conta as diversas condicionantes, seria impossível fazer algo melhor. O filme assenta num maravilhoso visual e numa incrível banda sonora que completam na perfeição uma história bastante original e interessante. Na minha modesta opinião, estamos perante uma das melhores adaptações de uma Banda-Desenhada ao cinema.


Classificação - 4 Estrelas Em 5

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