sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Crítica - O Complexo de Baader Meinhof (2008)

Realizado por Uli Edel
Com Bruno Ganz, Johanna Wokalek, Martina Gedeck

Após o final da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha viveu um período de enorme instabilidade política e financeira, provocada pela sua divisão entre os mundos capitalista e comunista. Durante essa fatídica época, foram vários os movimentos radicais que ameaçaram a frágil democracia do lado Ocidental, entre esses grupos encontrava-se a RAF (Red Army Faction/Baader-Meinhof Group), uma facção inspirada na ideologia comunista que também apresentava nos seus meios, traços da perigosa e radical ideologia Nazi. Esta explosiva combinação originou um grupo extremamente violento e sangrento que se destacou dos demais grupos radicais devido à enorme brutalidade das suas acções. Entre 1968 e 1998, as acções do grupo semearam o pânico e a insegurança por todo o território Alemão Ocidental, através de ataques bombistas e frios assassinatos. À frente desta facção estava uma tríade composta por Andreas Baader, Ulrike Meinhof e Gudrun Ensslin que fundaram este grupo com o intuito de libertar a Alemanha das garras capitalistas e opressoras dos EUA. O seu objectivo principal era unir definitivamente a Alemanha à ideologia comunista da URSS para criar uma sociedade mais humana e solidária. A década de 70 representou o ex-líbris deste fanático grupo já que foi durante esta década que se deram os seus principais ataques. Através de “Der Baader Meinhof Komplex”, o realizador alemão Uli Edel regride no tempo para nos mostrar as origens e consequências das acções da RAF na comunidade alemã mas também tenta explicar-nos (através de um exercício subjectivo e bastante complexo) as ideologias do grupo e as razões que levaram uma simples mulher como Ulrike Meinhof a enveredar por uma carreira dedicada à morte e ao sofrimento de terceiros.
O filme começa por nos apresentar uma Ulrike Meinhof (Martina Gedeck) bastante simples e estável que aparenta ser uma mãe extremamente dedicada aos seus dois filhos. No entanto, esta sua faceta simpática rapidamente desaparece após as manifestações estudantis de 1968 que tiveram um profundo impacto na sua mentalidade. Após este acontecimento, Ulrike abandona a sua família para se juntar a Andreas Baader (Moritz Bleibtreu), um activista que é retratado pelo filme como um guerrilheiro impiedoso e brutal. Este duo junta-se então a Gudrun Ensslin para em conjunto, fundarem a RAF. A primeira parte da obra é praticamente dedicada à análise das acções destas três personagens e à forma como eles conseguem iludir a polícia durante aproximadamente 5 anos. A parte inicial do filme também aborda as relações “diplomáticas” que a RAF mantia com o mundo árabe, nomeadamente com organizações terroristas que partilhavam o seu desdém pelos EUA. É durante esta parte que somos confrontados com os discursos idealistas e psicóticos de Andreas Baader que tenta justificar as suas acções no amor e na igualdade. Após a prisão dos três líderes do grupo e consequente morte de Ulrike Meinhof, a RAF começa a ser comandada por outra mulher, Brigitte Mohnhaupt (Nadja Uhl), que planeja friamente uma série de assassinatos e atentados contra alvos alemães, nomeadamente os dois grandes ataques que celebrizaram o Outono de 1977. A segunda parte do filme mostra então a nova geração de membros da RAF que entretanto assumiu uma postura mais violenta e calculista. Após mostrar uma tentativa falhada da RAF em libertar os membros originários e de relatar os acontecimentos do Outono de 1977, o filme termina sem fornecer uma brilhante conclusão, limita-se apenas a contar o princípio do fim de uma trágica história que termina ironicamente ao som de “Blowing in the Wind”.


O argumento deste “Der Baader Meinhof Komplex” foi escrito pelo mesmo guionista de”Der Untergang”, um filme biográfico sobre a vida de Hitler, também ele um ponto negro da história contemporânea alemã. Bernd Eichinger volta assim a desenvolver uma complexa biografia sobre um movimento de ideologia duvidosa que assombrou durante anos a Alemanha. Ao contrário de ”Der Untergang” este seu guião mais recente, não aprofunda em pormenor a vida e a personalidade de apenas uma personagem já que alastra o seu espectro de atenção às várias figuras de elite da RAF. No entanto, é bastante clara a sua intenção de dar mais atenção à história de Ulrike Meinhof, porque é de todas a mais complexa e mais incompreensível. De certa forma, a história da RAF mostra-nos que por vezes, o sexo feminino também pode ser capaz de actos terroristas de grande violência e envergadura já que, à excepção de Andreas Baader, a RAF era comandada por mulheres.
“Der Baader Meinhof Komplex” é um filme fácil de entender mas difícil de compreender, durante duas horas e meia o realizador Uli Edel dá-nos uma autêntica lição de história muito bem explicada mas a parte psicológica dessa história, esta fortemente subentendida nos diversos diálogos e acções das personagens. O filme não nos dá uma única resposta ou explicação concreta sobre as suas atitudes, todas essas explicações teóricas são remetidas para as suas acções. Como já referi, a existir uma personagem principal, essa terá de ser forçosamente Ulrike Meinhof mas mesmo sendo alvo de uma atenção extra, ficamos sem perceber as razões concretas que levaram esta mulher a abandonar os seus filhos. Pode-se dizer que o filme dá muitas informações mas não dá nenhumas explicações concretas, é um filme neutro que retrata a RAF exactamente como ela era.
Numa perspectiva mais secundária e menos relevante, destaco a prestação do elenco que sem ser magnífica consegue ser bastante competente. A fotografia e a banda sonora também são bastante aceitáveis mas não acrescentam nada de mais ao filme. O cinema alemão tem crescido muito nos últimos anos e a prová-lo está o facto do seu candidato aos Óscares encontrar-se quase sempre na lista dos pré-nomeados ao Melhor Filme Estrangeiro. O ano de 2008 não concretizou a excepção à regra e este candidato alemão conseguiu uma das cinco vagas da selectiva lista de nomeados à vitória final na categoria. Após o visionamento de “Der Baader Meinhof Komplex” só podemos concluir que a Alemanha voltou a brindar o mundo com uma genial obra cinematográfica sobre a sua negra e polémica história contemporânea. Um filme altamente recomendável.

Classificação - 4,5 Estrelas Em 5

2ª Crítica - AQUI

0 comentários :

Postar um comentário