domingo, 28 de dezembro de 2008

Crítica – Der Himmel über Berlin (As Asas do Desejo) (1987)

Realizado por Wim Wenders
Com Bruno Ganz, Solvieg Dommartin, Curt Bois

Um anjo deseja ser humano. Tomar conta, manter as coisas, não sentir, pairar é pior do que todas as sensações melhores ou menos boas da vida humana. Damiel (Bruno Ganz) apaixona-se por uma trapezista, Marion (Solvieg Dommartin), de quem era anjo da guarda e decide descer à terra para se tornar humano e mortal de forma a poder viver esse amor e sentir como os humanos sentem. Nesse processo é ajudado por outro anjo, Cassiel (Otto Sander), e por um ex-anjo, Peter Falk (representando-se a si mesmo). A introdução deste último na narrativa é um elemento essencial para a criação d eum universo de verosimilhança. O espectador subitamente percebe que no seu mondo, no mundo que vivencia todos os dias existem anjos, anjos que lhe dão a sensação de bem-estar, como o Detective Columbo.
A magia desta obra de Wim Wenders reside na manipulação da cor e do espaço como elementos significantes. O filme é rodado a preto e branco quando no sé apresentada a visão dos anjos, tornando-se num mundo colorido quando os anjos conseguem perceber o modo de ver o mundo dos humanos ou se fundem com essa visão. A juntar a esse processo narrativo está a utilização de espaços altamente simbólicos, uma Berlim brutal, destruída pela guerra, limitada pelo Muro graffitado; uma biblioteca fabulosa onde, no silêncio enorme da leitura, são claros e perfeitamente audíveis pelos anjos os pensamentos individuais, únicos, indizíveis de todas as pessoas. Outro espaço é a arena do circo onde Marion voa no trapézio, naquilo que, de certa forma, é o humano, que num caminho inverso, se transforma em anjo.


Se pudermos dividir o filme em três partes, sendo a primeira aquela que nos apresenta o ponto de vista dos anjos, a segunda a da identificação de Damiel com a vida dos homens e o seu desejo de sentir e a última a sua transformação num homem como os outros, encontramos um percurso no sentido do aligeiramento progressivo da narrativa, que se tornaria quase cómico não fossem as cenas cortadas que a edição em DVD apresenta. O isolamento dos pensamentos apenas captados pelos anjos, os olhares das crianças capazes de os verem, o número infinito de figurantes que anima as ruas de Berlim que, ainda assim, parece deserta, inumana, isolada, vão dando lugar progressivamente ao calor do ser humano, à alegria do risco de se poder sofrer mas de se poder amar, tomar café com cigarros, de se ser feliz e infeliz, de se estar enfim vivo.
Esta é portanto uma ode à vida, à vida como ela é, à vida que supera a perfeição. Este filme recebeu, entre outros, o prémio de Melhor Realizador do Festival de Cannes em 1987 e está disponível em DVD numa edição ZonLusomundo/Fnac.

Classificação - 5 Estrelas Em 5

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