sábado, 16 de fevereiro de 2008

Crítica - The Kite Runner (2007)

Realizado por Marc Forster
Com Saïd Taghmaoui, Shaun Toub, Atossa Leon, Khalid Abdalla, Navid Negahban

"The Kite Runner" foi durante largos meses o livro mais vendido em todo o mundo. O romance de estreia do talentoso Khaled Hosseini conquistou leitores em todo o mundo e arrebatou jurados dos grandes prémios internacionais de literatura que lhe atribuíram importantes galardões. Devido ao seu grande sucesso entre o publico geral e a crítica especializada, não é de estranhar que a obra tenha sido adaptada ao grande ecrã pelas mãos de Marc Foster (Finding Neverland). A sua história divide-se em dois momentos. Inicialmente acompanhamos a infância dos dois protagonistas Amir (Zekeria Ebrahimi) e Hassan (Ahmad Khan Mahmidzada). Amir faz parte de uma família abastada afegã e Hassan é o filho de um dos criados mas apesar das diferenças sociais os dois desenvolvem um grande sentimento de amizade e respeito. Apesar da sua amizade ser vista com maus olhos pelo lado rico e pelo lado pobre, os dois continuam juntos e a dar-se bem, ignorando as pressões e os olhares chocados de alguns indivíduos, divertem-se com o seu principal entretenimento, lançar papagaios no ar. Tudo corre bem até à invasão Russa do Afeganistão em meados de 1970, o medo e a ânsia da guerra afecta ambas as famílias, a de Amir foge para os EUA e a de Hassan sem possibilidades económicas de fugir tem que ficar no Afeganistão. O laço de amizade entre os dois amigos é quebrado pela guerra e pela distância.
Na segunda parte do filme acompanhamos a fase adulta dos protagonistas, vinte anos depois da fuga do Afeganistão, Amir (Khalid Abdalla) vive feliz e sem preocupações nos EUA a terra da liberdade e das oportunidades, apesar do Afeganistão já ser um país fora do domínio soviético este foi substituído pelo domínio radical talibã. Ao receber um preocupante telefonema de um dos amigos do seu pai, Amir viaja para o Afeganistão à procura de Hassan e da sua família, ao chegar encontra um país totalmente diferente do que conhecia da sua infância, devastado por sucessivas guerras e submergido na pobreza e intolerância religiosa. A realização de Marc Foster é simplista, limitando-se a contar a história do livro, focando temas polémicos como a religião, a guerra e as diferenças sociais. É uma história emotiva onde as lágrimas e os dramas abundam, existindo uma grande quantidade de sentimentos e valores positivos e negativos que se antagonizam ao longo do filme como a amizade/ódio, lealdade/deslealdade, nobreza/pobreza e respeito/intolerância.
A cultura e a religião islâmica tem um principal destaque nesta obra, somos brindados com várias perspectivas deste complexo mundo, algo que nos ajuda a compreender melhor as divisões e os problemas imergentes destas sociedades. Um olhar parcial e neutro que contraria várias ideias fixas que o mundo ocidental tem para com esses povos. O país focado na obra é provavelmente o melhor exemplo de um pais sofredor devastado por guerras politicas e religiosas, ainda hoje anda nas bocas do mundo por ser uma sociedade instável e alienada do mundo, não sendo completamente integrada no mundo ocidental nem no mundo muçulmano. A visão da capital Kabul arrasada e pobre, constantemente patrulhada por tropas talibãs que transmitem uma sensação de medo e insegurança que vemos na segunda parte do filme é completamente contrária à vista no início onde estávamos perante uma cidade aparentemente normal e livre. Ainda podemos ter uma terceira imagem, não presente no filme mas sim nos noticiários diários de uma Kabul recém-libertada pelas tropas norte-americanas mas que ainda vive num período de transição que não parece ter fim. Um importante jogo de diferenças que ajuda a compreender os efeitos de uma guerra religiosa/politica numa sociedade. "The Kite Runner" é uma história bela e interessante, trás ao grande público uma história de amizade e respeito mútuo entre dois amigos de classes opostos de um país fustigado por guerras e ditaduras religiosas. Para além de contar a bela história dos dois protagonistas, conta também a história de um povo, uma sensibilização a meu ver necessária nos dias que correm.

Classificação - 4 Estrelas Em 5

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